Escrita inquilina

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VOCÊ PODE LER ESSE TEXTO AO SOM DE "TO BUILD A HOME''.



          Posso me perder entre tudo que eu sou, mas quando ponho a ponta dos pés no mais simples pingo dos i’s, eu me encontro.
Na escrita, me ofereço a ser porta, mas sempre acabo virando janela, janela que dá para o quintal, nunca pra frente da casa, que é para se perder nas entrelinhas da vida e florescer no jardim da perdição. 
Escrever pode ser tanto prisão, quanto liberdade. 
Pode ser doença.
Ferir-te bem lá no fundo do peito, para transformar o que outrora era choro que ecoa, em conclusão. Ponto final. Acompanhado daquele leve suspiro de alivio depois de muitos soluços.
A escrita pode te revelar. Acusar-te de coisas e crimes que nem tinhas consciência de que havia cometido, mas ela te revela, te incrimina, te prende na mais cruel dúvida – ou certeza.
A escrita pode ser amor, pode lhe mostrar aquele tal florir do quintal, que vem junto com a memoria de um sorriso no escuro, aquele mesmo que pensastes ai. Aquele que te rasga os pulmões e sufoca quase como afogamento da alma, ou do coração.
A escrita pode ser árvore, que espalha raízes nas tuas ideias e em outros corpos.
Pode ser passarinho, que voa alto e longe e pode quem sabe espalhar sementes dos frutos da tua mente.
A escrita pode ser sangue, que corre e pulsa em tuas veias, que entope, que escorre, que quando seca por descuido ou falta de dor, deixa marcas nas tuas curvas.
A escrita pode ser inquilina, pode morar em cada centímetro do teu corpo ou da tua alma.
A escrita pode ser tudo, pode ser nada.
Pode ser universo, pode ser mar.
Pode eternizar.



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